"O projeto de lei Duplomb é fruto de um grave desvio institucional"

O projeto de lei Duplomb, aprovado em 8 de julho, está incendiando o verão. A reintrodução do acetamiprido, um pesticida devastador para a nossa biodiversidade; a facilitação de projetos de megabacias que drenam nossos recursos hídricos; e o relaxamento das regras que regem a pecuária confinada de alta produtividade, tudo isso incentiva a agricultura intensiva. Houve inúmeros retrocessos em termos de preservação dos nossos ecossistemas. Mas o projeto de lei Duplomb também é o produto de uma séria mudança institucional. Concebido às pressas como uma resposta à indignação da comunidade agrícola, ele seguiu um caminho que minou os princípios essenciais da deliberação parlamentar e da legislação.
Em resposta, mais de 1,5 milhão de pessoas se mobilizaram em poucos dias para formular uma espécie de convocação cidadã para uma nova leitura de um texto que, no entanto, já havia concluído sua jornada parlamentar. O Artigo 148-6 do Regimento Interno da Assembleia Nacional não oferece tais perspectivas para o direito de petição. Mas essa ânsia popular por um texto que ainda não foi promulgado deve nos levar a nos questionar, especialmente em um contexto de crise democrática que está minando nossas instituições.
Para isso, é preciso entrar na mecânica seca do procedimento parlamentar. Estipula-se que, após uma leitura em cada uma das duas assembleias, um texto cuja urgência tenha sido declarada possa ser apresentado a uma comissão mista (CMP). Essa instância reúne uma amostra de deputados e senadores para buscar conciliação sobre os artigos ainda em discussão. No espírito do procedimento, o texto adotado por cada uma das duas assembleias constitui um mandato imperativo para seus representantes, que são responsáveis por elaborar um texto de compromisso que respeite os equilíbrios resultantes dos debates. O problema: nenhum texto foi aprovado pela Assembleia Nacional — uma moção de rejeição lançada pelos defensores do texto foi votada antes mesmo que os artigos fossem examinados. Assim, os deputados se viram desprovidos de qualquer mandato para negociar... e, no entanto, um acordo surgiu, o que representa um sério problema institucional.
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Le Monde